O presente trabalho propõe uma reflexão sobre a proposta
terapêutica da psicanálise. A partir da perspectiva aberta por J. Lacan,
repercorremos o caminho freudiano no que diz respeito à construção de seu
método de tratamento. Ao final de nosso estudo, propusemos o entendimento da
castração, apontado por Freud como obstáculo derradeiro ao processo clínico, em
relação à estrutura de linguagem do aparelho psíquico, noção que implica na
existência de um limite à ação terapêutica da palavra pelo fato de nem tudo no
psiquismo ser passível de simbolização. Limitação e especificação de um
trabalho, que partindo da inclusão da categoria do real, acopla, ao alívio dos
sintomas, a revelação de uma verdade singular sobre o sujeito do inconsciente e
o desejo que o anima.
O momento atual, no qual assistimos a uma crescente oferta
de formas variadas e atrativas de psicoterapias, nos parece particularmente
propício à reflexão sobre a proposta terapêutica do trabalho psicanalítico. A
rigor esta questão não é nova e acompanha a psicanálise desde sua constituição
por Freud aos nossos dias atuais.Por um lado este fato demonstra a importância
da questão e, por outro, nos indica que seus limites e definições ainda se
encontram em processo de construção e produção. Resumidamente, nossa
interrogação poderia ser colocada da seguinte forma: a partir de seu
referencial teórico, o que um analista pode oferecer às pessoas que o procuram
em busca de um alívio para seus sofrimentos? Em outras palavras, qual o conceito
de cura que a psicanálise propõe?
De imediato sabemos que esse conceito não se confunde com a
concepção de cura médica. E ainda que psicanálise e medicina tenham se
entrelaçado em seu tempo inaugural, uma ruptura entre ambas logo se processou.
Podemos destacar, inclusive, que a clínica psicanalítica trata de dores paras
as quais não há medicalizações, drogas milagrosas, aparelhos tecnológicos ou
qualquer outra ordem de recursos que possam garantir um suporte externo ao
tratamento que está sendo realizado. Neste, conta-se apenas com simples e
corriqueiras palavras. E uma vez circunscrita pela ação da palavra, a cura na
psicanálise se estenderá entre o alcance e o limite de seu poder terapêutico. É
com esta questão que cada um que se envolve com o trabalho psicanalítico, tem,
necessariamente, que se deparar. Quer seja enquanto paciente, ao sentir na pele
a intensidade desmesurada e irracional dos movimentos transferenciais os quais
o lançam entre o amor e o ódio pelo analista, suscitando paixões soterradas e
sentimentos, há muito, supostamente esquecidos. Ou quer seja no lugar do
analista, ao ter que supotar com sua presença todas as nuances da transferência
e possibilitar, a partir daí, a ocorrência do trabalho clínico. Posições que
são, cada qual a seu modo, bastante desconfortáveis.
Isso, no entanto, não nos exime da tarefa de termos que
prestar contas do nosso ofício.Por essa razão nossa intenção aqui será a de
tecermos algumas considerações as quais nos permitam refletir sobre a
especificidade do trabalho clínico psicanalítico. Para tal nos utilizaremos da
perspectiva aberta por Lacan, o qual enfatizou, entre outros aspectos, o
caráter linguístico das concepções freudianas acerca dos processos
psíquicos.Tal perspectiva servirá de fundamento à nossa proposta de refazermos
o caminho freudiano para nele compreendermos como o entendimento da psiquê pelo
viés da linguagem, inaugurado por Freud, o levou a um afastamento do limite
terapêutico imposto pelo real da fisiologia proferido pelo discurso médico cientificista
do século XIX. Com isto lhe foi possibilitado a formulação de um novo projeto
terapêutico, otimista, voltado para a dissolução dos sintomas histéricos
através da interpretação de seu sentido. Ao final de sua obra, entretanto,
Freud foi conduzido ao reencontro de um obstáculo imposto pelo real
circunscrito pela própria linguagem, na medida em que esta, enquanto metáfora,
implica na existência de um limite à palavra e, consequentemente, à proposta
terapêutica sobre ela edificada. Se nesse momento de sua obra Freud tenha se
deparado com um impasse quanto às possibilidades terapêuticas da psicanálise,
nesse ponto, acreditamos, a contribuição lacaniana propõe uma saída. Na medida
em que nos faz perceber que embora as palavras não sejam capazes de transformar
aquilo o que, no psiquismo, não é passível de simbolização, elas podem,
contudo, promover uma mudança na posição do sujeito frente aos desígnos de seu
desejo.
Aqui fazemos um convite aos nossos leitores: que nos
acompanhem no mesmo caminho que nos foi necessário percorrer para chegarmos a
essas conclusões. Nesse percurso acompanharemos, sobretudo, os passos
freudianos. Os erros, acertos, dúvidas, impasses e superações com os quais ele
póprio se deparou na construção de seu método singular de tratamento. Um método
que desde o início aprendeu a conviver e a ultrapassar obstáculos, e que,
sobretudo, nos destituiu de toda e qualquer ilusão em uma cura ideal, já que,
como nos advertiu Freud, muito já estaremos fazendo se "conseguirmos
transformar o sofrimento neurótico em infelicidade comum"(Freud,1895).
Primeiras Demarcações : a Palavra Terapêutica
Inicialmente, podemos destacar que a questão da linguagem
está presente desde os primórdios da obra freudiana. A rigor, muito antes da
publicação do livro dos sonhos, Freud iniciou seu trabalho clínico com suas
pacientes histéricas pelo viés da linguagem. Seguindo a trilha aberta por
Charcot e pela Escola de Nancy, o autor, em seus primeiros estudos, propôs uma
novidade teórica a qual pode ser formulada da seguinte maneira: há, nos
fenómenos histérico, uma total desvinculação em relação à anatomia, porém - e
isso é de importância fundamental - não há uma desvinculação entre histeria e
corpo. Sendo este último entendido enquanto representado psiquicamente, ou seja,
O presente artigo é baseado no meu trabalho de dissertação
de mestrado, "Entre a teoria e a clínica psicanalítica: as propostas
terapêuticas em Freud" apresentado ao Instituto de Psicologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Curso de Mestrado em Psicologia Social
e da Personalidade sob orientação da Prof. Vera L Lopes Besset(out/97).
enquanto investido de um valor psicológico. Desta forma, indo além da anatomia,
o texto freudiano propôs, de início, uma outra forma de articulação entre os
registros físico e mental. Uma articulação que o permitiu indicar, também, um
mais além da sugestão hipnótica a qual permeia a mediação entre a palavra do
médico e o sintoma histérico: a linguagem.
Aqui, nos parece importante destacarmos que este momento de
elaboração teórica, demarcou uma ruptura epistemológica crucial entre
psicanálise e outros saberes de então, principalmente em relação à psiquiatria,
à neurologia e à psicologia. Essa ruptura se revelou fundamental porque a
partir dela o entendimento sobre os fenômenos histéricos pôde ser efetuado pela
lógica do sentido e não mais pela lógica da anatomia que os tornava,
especialmente, incompreensíveis.
Em relação à constituição do campo clínico, pelo viés da
linguagem, os fenômenos neuróticos puderam ser concebidos como o produto final
de um processo de simbolização, acarretando com isto que seus sintomas
passassem a ser concebidos como posssuindo um sentido oculto que ao ser
desvelado no curso do tratamento se dissolviam. Uma vez que a linguagem
estrutura a formação dos sintomas, ela deve ser tomada como pilar estruturador
do método terapêutico e instrumento clínico que possibilita a cura das
neuroses. Concepção esta inerente ao objetivo do método catártico ao propor a
eliminação dos sintomas a partir da ocorrência de uma ab-reação do afeto
patogênico ao fornecê-lo uma expressão verbal. Aqui, se inserida de forma
radical, a eficácia terapêutica da palavra, na media em que ela permite a ponte
entre os registros físico e mental, ou seja, entre o componente psíquico ( a
representação patogênica) e o componente somático ( o quantum afetivo) das
manifestações sintomáticas. Por esta razão, o método catártico propunha que a
rememoração da cena patogênica deveria vir acompanhada de seu afeto
correspondente para que surtisse um efeito terapêutico. A cura se fazia,
portanto, sobre a possibilidade de se descarregar uma carga afetiva que ficara
'estrangulada' à época da ocorrência da experiência traumática (Breuer e Freud,
1893).
Claro está que essa proposta clínica, implicava na suposição
de que a energia psíquica é passível de receber um processo de simbolização,
garantindo, desta forma, a eficácia terapêutica da palavra. Porém, podemos
notar que já nessa primeira fase de elaboração teórica freudiana, embora as
relações psíquico/somático tenham sido estabelecidas sobre o pilar da
linguagem, os processos clínicos desenvolvidos indicavam que algo escapava à
essa relação, demonstrando que não há uma mediação ponto a ponto entre esses
dois registros. Assim, se ao nível da teoria, os estudos empreendidos apontavam
para a possibilidade de simbolização da energia psíquica, a clínica, por seu
turno, demonstrava o encontro de um êxito parcial nesse processo.
A rigor, o desenvolvimento dos atendimentos clínicos
indicava a existência de alguns elementos resistentes à simbolização e, por
conseguinte, à eficácia terapêutica da palavra. O encontro desses obstáculos
clinicamente palpáveis levou o autor à tematização sobre suas bases
etiológicas, preferencialmente recorrendo a explicações biológicas. Este é o
caso, por exemplo, da concepção freudiana sobre as 'neuroses atuais' as quais
foram concebidas como sendo edificadas a partir de uma etiologia puramente
fisiológica na medida em que seus sintomas eram constituídos a partir de
problemas orgânicos em se obter a satisfação sexual, sem a participação de
qualquer mecanismo psíquico (Freud 1895[94]). Esta é a razão pela qual as
neuroses atuais não seriam compatíveis com uma terapia cuja proposta era a de
elucidar o sentido oculto dos sintomas, dissolvendo-os pela decifração de sua
significação simbólica, tornando-as contra-indicadas para a cura pelo método
terapêutico ora proposto.
Acreditamos que podemos destacar essas concepções freudianas
como um exemplo da forma através da qual o autor procurou abordar a questão,
indicada pela clínica, sobre os limites do alcance terapêutico da palavra.
Recorrendo, inicialmente, à fisiologia para nomear o que se apresentava fora do
registro simbólico, para além das palavras. Gostaríamos de indicar que, foi somente
após a introdução do conceito de pulsão de morte que essa região de
não-inscrição, ou de silêncio que ela recobre, pôde ser tematizada (porém não
solucionada). Posto que, ao final da obra freudiana, esses elementos psíquicos
não redutíveis ao registro simbólico se apresentaram como o obstáculo
derradeiro ao processo clínico sob a forma do 'complexo de castração'
(Freud,1937). O que, contudo, não se tornou indicativo de uma impotência
terapêutica, enfim, assumida. Mas apenas o encontro do ponto crucial para a
mudança psíquica a qual a clínica lacaniana poderá indicar. À frente,
retornaremos a esse assunto.
Concepções Metapsicológicas : a Transferência em Questão.
Podemos observar que a questão relativa à proposta
terapêutica do processo psicanalítico sofreu uma reformulação radical durante a
construção da metapsicologia freudiana. Neste período extremamente fértil de
elaboração teórica e de aplicação clínica, a crença no êxito terapêutico da
psicanálise permaneceu incontestável, porém, se viu, dialeticamente,
modificada. Ultrapassando a produção do alívio do sofrimento obtido através da
dissolução dos sintomas para se referir ao que, se expressando através destes,
diz respeito à revelação de uma verdade singular sobre o desejo inconsciente de
cada paciente. Essa mudança teve início a partir do momento no qual o fenômeno
transferencial se deslocou da periferia do processo clínico para a centralidade
do mesmo, tornando-se, como afirma Lacan (1977), o veículo através do qual a
cura opera. Perspectiva que foi aberta a partir da compreensão, por parte de
Freud, de que reside na transferência a possibilidade de se encenar, no
processo analítico, o caráter metapsicológico das atividades mentais. Ou seja,
em seus aspectos econômico (na medida em que se apresenta como um investimento
libidinal na figura do analista), tópico (uma vez que ela reedita o
funcionamento dos movimentos inconscientes) e dinâmico (enquanto se
presentifica como resistência ao processo clínico).
Podemos observar que não levou muito tempo para que Freud
passasse a identificar a transferência, concomitantemente à resistência, a um
momento de movimento de emergência do material recalcado (Freud,1905[1901]). No
processo terapêutico, o convite feito pelo analista ao paciente, em dizer, sem
restrições, tudo que lhe vier à mente, empreende, neste, o início de uma ação
psíquica. À essa ação se contrapõe uma força psíquica oposta e de igual
intensidade. Fato este que implica na ocorrência de uma resistência ao avanço
das associações e da emergência do material inconsciente que aquelas possam
permitir emergir. Neste momento, a clínica demonstra que a instauração da
transferência se apresenta como uma tentativa de resolução para esse conflito
entre forças opostas : o material inconsciente que procura vir à tona e a
resistência à essa possibilidade (Freud, 1912). Com isto fica determinado a
dupla face da transferência, já que ao mesmo tempo em que sua instauração
assinala a emergência de um material proveniente do inconsciente, aponta para
um momento de fechamento do mesmo (Lacan,1964).
Por outro lado, a emergência do desejo inconsciente do
paciente se presentifica, clinicamente, através da repetição de formas arcaicas
de investimento libidinal.Segundo Freud (1912a), as bases para a instauração da
transferência situam-se na própria estrutura neurótica. Nesta, o modo
específico de encontrar a satisfação pulsional forma um "clichê
esteriotipado" o qual é disparado e repetido cada vez que um processo de
investimento libidinal se inicia. No transcorrer de um processo analítico,
ocorre, também, a reinstalação deste dispositivo, agora endereçado à figura do
analista. Este último, passa a ser incluído nessa série esteriotipada de
encontrar a satisfação pulsional, a qual vem sendo repetida inconscientemente,
ao longo da vida do paciente. Nesse processo, a transferência, além de demarcar
a interrupção do fluxo associativo e de permitir a emergência do material
patogênico, pela repetição que lhe é fundamental, passa a ser concebida como
uma forma de produção da própria neurose no interior do espaço clínico. Por ser
a reprodução ou a substituição do processo neurótico primevo e, portanto,
representar a instauração de uma neurose artificial, uma 'neurose de
transferência', ela permite que o analista possa atuar sobre sua produção,
permitindo que ela receba uma nova significação (Freud,1913).
Claro está que a tentativa de alcançar uma re-significação
para a neurose transferencial, encontra vários obstáculos. E ainda que possamos
apontar, como Freud (1913), o sofrimento neurótico como a força motivadora para
o início do tratamento, a vontade consciente do paciente, não é suficiente para
mantê-lo engajado na análise. Não podemos esquecer que a construção da neurose
foi, na verdade, a melhor forma encontrada para lidar com o conflito psíquico e
evitar o sofrimento que este trazia. Desta forma, o paciente não estará
disposto a abrir mão tão facilmente dos "lucros secundários" que a
doença lhe proporciona. Razão pela qual, à essa força motivadora inicial, o
analista deve contar com uma outra: o poder da sugestão compreendido no vínculo
transferencial (Freud,1913).
Nesse ponto, há que ser feita uma consideração no sentido de
promovermos uma distinção entre psicanálise e métodos terapêuticos sugestivos.
Para tal, tomemos a analogia utilizada por Freud.Para ele, os métodos que se
utilizam da sugestão, poderiam ser comparados à técnica da pintura, enquanto a
psicanálise poderia ser comparada à técnica da escultura. A pintura se
caracteriza por colocar, sobre uma tela vasia e incolor, partículas coloridas
até então inexistentes. A sugestão agiria de forma equivalente, posto que sua
utilização não se vincula a uma preocupação em elucidar a origem, a força ou o
sentido dos sintomas. Ela apenas supõe que a sua utilização deposite algo suficientemente
forte que seja capaz de impedir a emergência da ideia patogênica. Em
contrapartida, a psicanálise, trabalhando como a escultura, "retira da
pedra tudo o que encobre a superfície da estátua nela contida" (Freud,
1905 [ 1904] pg 244). Agindo desta forma, a proposta de seu método procura
antes de tudo entender o jogo das forças psíquicas subjacentes aos sintomas.
Assim, nada é colocado de fora, mas a trama psíquica que liga as ideias
patogênicas é submetida a um processo de desvelamento objetivando a dissolução
do conflito. Pode-se observar que, de forma diversa, ou até mesmo inversa, a um
método sugestivo, a análise permite a identificação da dialética da
transferência/resistência, a qual, por um lado se aferra à doença se opondo à
recuperação, e que , ao mesmo tempo, se constitui como aquilo que permite o
entendimento da forma pela qual o paciente vem se comportando em sua vida
(Freud, 1905[1904]). Sem o submetimento da tranferência à análise, seu método
não se distinguiria dos outros métodos psicoterápicos. Desta forma, o momento
de resolução dos vínculos transferenciais assinala o término de seu processo de
cura, o qual se coloca, assim, para além da dissolução dos sintomas
(Freud,1905[1904]).
Importa salientar um aspecto crítico para o transcorrer desse
processo de análise. A instauração da tranferência tem o poder de produzir a
cessação da produção dos sintomas,uma vez que os investimentos libidinais se
transferem destes para a figura do analista. Na medida em que a instauração da
transferência produz esse efeito grandioso, ela pode atuar, no analista, como
puro poder de sedução. O perigo recai na possibilidade do analista se deixar
paralizar por este fascínio de poder. Razão pela qual, sua atua-ção deve ir
além do efeito terapêutico obtido pelo alívio sintomático. A análise requer,
para sua consecução, que se penetre na estrutura mesma da neurose. Paralizá-la
representaria a vitória da resistência sobre a proposta terapêutica da
psicanálise. Desta forma, o nascimento da especifidade da proposta clínica
psicanalítica, naquilo que a diferencia dos outros métodos psicoterápicos,
residiu na edificação de um trabalho o qual, embora englobando o alívio dos
sintomas, comporta uma dimensão de construção de uma verdade sobre o sujeito em
análise.
Em relação à clínica, esse posicionamento trouxe, entre
outras consequências, novas atribuições para o analista e para o paciente no
desenvolvimento do tratamento. Pelo lado do analista, este perdendo o conforto
desfrutado anteriormente ao ocupar uma posição de exterioridade em relação ao
processo clínico, passa a ocupar um lugar de interioridade o qual lhe é
imputado pelos movimentos transferenciais do paciente. Deste lugar, ele deverá
agir através da utilização da interpretação. Esta última não se refere à
possibilidade de aplicação de um saber racional do médico sobre o material
patogênico do paciente. Mas, partindo do lugar que lhe foi reservado pela
transferência, a interpretação deverá soar como um enigma, e não como um
oráculo que porta uma verdade. Se verdade existe, esta se dá por um processo em
construção (Lacan, 1977b). O analista, então, deve permitir um trabalho que se
coloca do lado do paciente. Este sim, por seu turno, não ocupa uma posição
passiva de espera por uma solução salvadora para seus sofrimentos. Mas deve
produzir um trabalho psíquico de elaboração, que não se restringindo à
ab-reação dos afetos, permite que as resistências sejam decisivamente
ultrapassadas e o material recalcado simbolizado.
Porém, nem tudo são flores. A compulsão à repetição
apresentada pelos pacientes em análise se coloca como novo obstáculo a ser
clinicamente transposto. A rigor, esse fenômeno clínico se referia, também, ao
limite terapêutico da palavra, ao indicar que nem tudo no psiquismo é passível
de simbolização.
O Trabalho Clínico: Limites e Especificidade
Podemos observar que o questionamento e a tematização sobre
a existência de elementos psíquicos resistentes ao processo de simbolização
demandado pelo processo clínico se tornou preponderante na obra freudiana a
partir de 1920. A esse respeito, acreditamos que a introdução do conceito de
pulsão de morte no corpo teórico da psicanálise veio, em certo sentido,
procurar responder às questões impostas pelos obstáculos ao progresso do
tratamento que se referem, em última instância, ao limite à ação terapêutica da
palavra.
Podemos indicar que essas considerações se iniciaram a
partir do impasse introduzido pelo fenômeno clínico da compulsão à repetição, o
qual sintetizava, de forma exemplar, o problema que vinha acompanhando a
psicanálise em relação à impossibilidade encontrada, em se alcançar a
simbolização daquilo que, agindo sobre o aparelho anímico se tornara traumático
e, na clínica, se mostrava resistente à elaboração e à restauração. A nosso
ver, possivelmente essa tenha sido uma das razões pelas quais, nesse período de
construção teórica, Freud tenha se dedicado a especificar e problematizar os
obstáculos que se opõem ao progresso do processo clínico, demonstrando uma
constante preocupação em promover uma análise sistemática sobre as inúmeras
resistências à análise. Assim, podemos entender que a suposta
"desesperança" freudiana quanto à eficácia terapêutica da psicanálise
creditada por alguns comentaristas mais apressados, na verdade revela a
discussão de uma questão teórica e clínica que necessitava mesmo ser
problematizada. Afinal, se tomarmos como termo comparativo a finalidade dos
outros métodos de tratamento psíquico (a eliminação dos sintomas) podemos
perceber que este também ocorre na psicanálise. Freud não o negou, muito ao
contrário. Apenas não era esta a questão que estava em pauta, pois o que a
psicanálise propõe está em trabalhar com um mais além disso.
O que gostaríamos de destacar aqui é que, entre todos os
fatores que se opõem ao tratamento, Freud (1937) apontou como obstáculo último
e insuplantável o complexo da castração, "rochedo" diante do qual o
processo terapêutico esbarra e paraliza. Segundo o autor, nas mulheres, esse
complexo aparece como uma inveja do pênis, um esforço para possuir um órgão
genital masculino do qual ela teve que abdicar durante a passagem do Édipo. Na
análise, a constatação de que o processo terapêutico não realizará seu desejo
por um pênis é sentida como uma forte depressão e desinteresse pelo trabalho.
Já nos homens, a situação analítica parece reproduzir uma luta masculina contra
sua atitude passiva para com outro homem, acarretando uma forte resistência
transferencial. Razão pela qual os homens se recusam a se submeterem ao analista
e a aceitar, deste, o seu restabelecimento, uma vez que isto representaria
estar em dívida com seu próprio pai. Ou seja, pode-se inferir que frente à
questão da diferença sexual, os processos psíquicos esbarram para encontrarem o
seu limite.
Interessa notar que, em Freud, esse limite permaneceu
fundamentado em uma ques-tão biológica já que, em sua concepção, a diferença
sexual se pautava, em última instância, no registro da anatomia. Com Lacan
podemos entender esse processo a partir de uma perspectiva mais abrangente,
que, desvinculando da anatomia, relaciona a questão sexual com a estrutura de
linguagem do aparelho psíquico. Nessa perspectiva, devemos entender a passagem
pelo complexo de Édipo como o momento estruturador da sub-jetividade humana, uma
vez que se caracteriza por ser o processo através do qual ocorre a simbolização
e inscrição de três funções primordiais no sujeito:
a função materna (enquanto
Outro)
a função paterna (enquanto
mediadora das exigências feitas ao Outro)
a função do falo (enquanto
representativa das relações).
O que aí se opera, através do Édipo, é o símbolo da relação
com o Outro, o símbolo da própria relação (falo) e o símbolo da legalidade de
toda relação (a lei intermediada pelo pai) (Cabas,1988).
Inicialmente esse processo ocorre através de uma
identificação alienante da criança em sua mãe, enquanto Outro primordial, e,
posteriormente, através de uma gama variada de identificações com objetos que
supostamente interessam à mãe e que poderiam completá-la. Objetos estes que se
apresentam, ao sujeito, como sendo o próprio falo. Sendo que, no momento no
qual a criança percebe que ninguém é, realmente, o falo, lhe é fornecida a
possibilidade de tê-lo. Processo este permitido a partir da entrada do pai em
cena ao produzir um corte na relação dual mãe/bebê. Aqui, a castração atua
duplamente, ao privar a criança de ter sua mãe, e ao privar a mãe do objeto de
seu desejo, instaurando a lei que regula as relações entre os semelhantes.
Momento fundamental caracterizado pelo acesso ao simbólico pela criança que
pode, através desta ferramenta, exercer um controle sobre o objeto perdido.
Indicando com isso, que pela linguagem, a criança passa a controlar,
simbolicamente, o fato de não ser, exclusivamente, o objeto de desejo da mãe.
Ou seja, de não ser o falo, ou aquilo que poderia, supostamente, preencher a
falta do Outro. Aqui, fica demarcado que, pela linguagem a criança deixa de ser
o objeto de desejo do Outro, para aventurar-se como "sujeito", ao
designar, simbolicamente, sua renúncia ao objeto perdido. Segundo a proposta
lacaniana, a saída encontrada pela criança para dar conta da operação que
recalca o desejo de ser pelo desejo de ter o falo, será a de nomear, pela
palavra, o seu próprio desejo. Engajando-se, desta forma, na sequência
interminável de significantes de seu discurso, os quais, procurando designar o
objeto perdido, se fazem deste, eternos substitutos. Cativo desta cadeia
infindável, o desejo se torna para sempre insatisfeito a partir do momento no
qual o sujeito foi impelido a nomeá-lo. E ao fazê-lo, ou seja, ao transformar o
desejo em símbolo, fica determinado a divisão de sua subjetividade em um
"eu" consciente e um sujeito do inconsciente, o qual é contudo
barrado, tornando impossível dizer sobre o que há de mais íntimo em seu ser
(Besset,1996).
Concluindo, a mãe, ao desempenhar sua função de erotização
do bebê, através dos cuidados maternos, exerce uma ação de sedução sobre a
criança totalmente dependente deste Outro todo poderoso. Por ser exercida em um
período anterior ao advento da fala pela criança, a sedução materna diz
respeito à uma ação impossível de ser simbolizada. A sexualidade, vinda do
Outro, se torna traumática, na medida em que diz respeito ao real inapreensível
pelo registro simbólico. A castração, ao escancarar uma falta fundamental no
sujeito e no Outro, abre a brecha para a instauração do sujeito desejante, que
se ordena em torno de uma fantasia fundamental construída para dar conta de uma
questão imposta, ao sujeito, pelo desejo do Outro. Fantasia fundamental, que
marca a relação do sujeito com o Outro e com seus semelhantes, formulada para
dar conta de um real inominável que nele irrompeu e sobre a qual o sujeito se
fixou (Besset,1997). Sendo, justamente, essa dupla vertente da fantasia, como
resposta ao desejo do Outro e como vinculada a uma falta no cam podo
significante, que permite, na clínica, um trabalho que, incluindo a categoria
do real, ultrapassa o alívio dos sintomas para se instaurar na possibilidade de
produzir uma "modificação da relação do sujeito com o real da
fantasia"(Miller, 1986 pg 113).
Acreditamos que essas noções forneçam as bases pelas quais,
pode-se entender como o complexo de castração, em uma perspectiva lacaniana,
passou de uma posição na qual se colocava como o fim a que se chegava no
processo clínico para ponto fundamental da mudança psíquica. Nesse processo, da
mesma forma que Freud havia indicado a necessidade de se entender os processos
físicos e psíquicos pela articulação estabelecida entre ambos, o estudo lacaniano
propôs que o registro simbólico só se torna inteligível quando articulado aos
registros do imaginário e do real.
E embora o real não seja apreensível pelo simbólico, ou
seja, esse último não tem poderes para modificá-lo, pelo simbólico encontra-se possibilidades
de alterar a posição do sujeito frente os efeitos produzidos pela ação do real
sobre ele. Razão pela qual o autor indicará que o complexo de castração não
deve ser tomado como o obstáculo derradeiro do processo analítico, contra o
qual o paciente se debate em desesperança. Porém, ponto a partir do qual o
sujeito se reorganiza frente sua fantasia fundamental, assumindo uma posição
diferente da ocupada anteriormente (Besset,1996). Em essência, na psicanálise,
isso é a cura.
Enfim, se há mais em um processo analítico do que nossas
palavras alcançam, esse fato é convidativo ao discurso e não ao silêncio.
Talvez, exatamente por isso, a clínica psicanalítica esteja aí, recebendo
pessoas que demandam um alívio para seus sofrimentos. E, como disse Lacan
(1993), o interessante é que existe resposta para essa demanda, anunciada,
pelos próprios pacientes, quando afirmam terem se modificado, pelo trabalho
psicanalítico.
Considerações Finais
Inicialmente, gostaríamos de destacar a relação dialética
existente entre teoria e clínica encontrada na obra freudiana. Em nenhum
momento desta, os campos teórico e clínico se afastam. De tal forma que,
encontra-se nas possibilidades e limites circunscritos pela prática clínica, o
espaço no interior do qual a teoria pode ser construída. E vice-versa. Foi,
justamente, a partir desse caráter dialético, que pudemos destacar, em nosso
estudo, que a obra freudiana não apresenta uma resposta única em termos de seu
objetivo terapêutico. Ao contrário, à cada momento de elaboração teórica
corresponde uma proposta terapêutica específica, implicando no avanço paralelo
de seu corpo teórico e de suas aplicações práticas. Na verdade esta proposição,
por um lado, impede que a teoria psicanalítica, desvinculada de sua prática, se
transforme, conforme nos advertui Freud (1933[1932]), em uma visão de mundo
(Weltanschauung). Por outro, não permite que sua clínica se torne um espaço
privilegiado a serviço da teoria, onde esta possa ser verificada e ampliada.
Uma espécie de laboratório, que seria, no mínimo, injusto para com as pessoas
que a procuram em busca de um alívio para seu sofrimento. E, na medida em que a
psicanálise se coloca em uma posição de acolhimento dessa demanda, necessita
prestar contas de seu ato. Um ato de oferta, que deixa subentendido que ela é
capaz de fazer algo que torne possível, ao paciente, alcançar um alívio para o
desprazer produzido por seus sintomas. Isso implica que há uma promessa de cura
veiculada por cada tratamento clínico que se inicia. Freud, ele próprio, nunca
o negou. Ao contrário, encontramos em sua obra várias passagens que indicam a
confiança do autor no poder de cura da psicanálise. Para ele, nos tratamentos
desenvolvidos, se podia obter "em condições favoráveis, sucessos
terapêuticos não menores do que os mais belos resultados alcançados no âmbito
da medicina" (Freud, 1917[1916] pg 534).
Porém, ainda que aqui, Freud tenha aproximado os conceitos
de cura na medicina e na psicanálise, a sua diferenciação se torna
imprescindível. Essa diferenciação se dá, justamente, porque cada uma dessas
ciências situa o entendimento dos sintomas em registros diversos: registro
anatômico para uma, registro linguístico, para a outra. Assim, para a medicina,
o sintoma é orgânico, pura anatomia, que depende do bom funcionamento dos
órgãos. Isso é fácil de entender. Qual de nós, que já passou por um tratamento
médico, não sentiu como neste só o corpo é priorizado, única e exclusivamente.
Médicos e enfermeiros, dele dispõem, sem cerimônias e sem pudores. Os
pacientes, nesses casos, são pura massa corpória, deslibinizada, que nada
significam para além do registro fisiológico. Nada contra, até porque muitas
vezes, é desse tratamento mesmo que o corpo necessita para se manter
vivo.Outras vezes, no entanto, a questão é diferente. Para a psicanálise, há
sintomas que podem ser entendidos por aquilo que eles representam, ou por
aquilo que eles falam do sujeito que os porta. A partir de Freud, o sintoma se
atrelou à linguagem determinando que este seja concebido como possuindo uma
mensagem que merece ser desvelada. É o deciframento dessa mensagem que produz,
como resultado, um efeito terapêutico, o qual não se refere somente a um alívio
dos sintomas, mas que acopla a este, a construção de uma verdade sobre o
sujeito em análise (Besset, 1996). A rigor, esse processo de simbolização,
contudo, se mostra ineficiente no momento em que o paciente se depara com o
"rochedo da castração". É aqui que as contribuições lacanianas se mostram
necessárias, pois, através delas se torna possível entendermos esse limite
clínico em relação, não à anatomia (como o fez Freud), mas à estrutura de
linguagem do aparelho psíquico.Uma noção que implica na concepção da existência
de um real, que embora diga respeito e afete o sujeito, é radicalmente
irredutível ao simbólico. Denotando, por um lado, um limite ao poder
terapêutico da palavra, e por outro, a especificidade da proposta terapêutica
da psicanálise. À medida que esta se inscreve na possibilidade de permitir,
através da palavra, uma mudança, não no real, mas na posição do sujeito frente
a esse.
E nesse sentido que propomos o entendimento que, a
castração, ao indicar um limite, ao impor uma lei, ao expor a falta no sujeito
e no Outro, coloca aquele face aos enígmas de sua existência. Enígmas,
suscitados pelo desejo do Outro e para os quais o sujeito constrói uma
fantasia, fundamental, na qual se fixa e em torno da qual organiza seu desejo.
Se esse mecanismo é o responsável por tornar a análise, como observou Freud
(1937), uma tarefa impossível, ela é impossível na medida em que não poderá
"desfazer" o recalque, ou "curar" o sujeito da divisão
subjetiva que lhe é fundamental e que o constituiu como humano. O limite do
analisável, apontado por Freud (1937) como sendo o complexo de castração se
refere à essa divisão fundamental. A castração, enquanto assinalando a
diferença sexual, denuncia que há algo de não nomeável, de não simbolizável
nessa operação. Denuncia que nem tudo no psiquismo se insere no registro
simbólico da linguagem, e que há, para além deste, o inapreensível real.Por
esta razão, a promessa de cura, na psicanálise, não se refere ao encontro de
uma harmonia, de um bem-estar total, ou de uma plenitude, mas à elucidação de
uma verdade, sempre singular, sobre o desejo inconsciente de cada paciente
(Besset,1996). A partir desse processo se torna possível, não a simbolização da
castração, posto que irrealizável, mas uma nova postura do paciente em relação
aquilo que, nele, é causa de seu sofrer.
Para finalizar, gostaríamos de fazer uma última
consideração. Todos nós que lidamos com a dimensão clínica da psicanálise
sabemos a importância que tem, para o paciente, o encontro de um alívio para
seus sintomas. Ou seja, por mais que tenhamos em mente que o objetivo da
análise aí não se coloca, este fato contudo, não implica que esse efeito deva
ser negligenciado ou desprezado. Como nos assegurou Freud (1933[1932] pg 191)
em relação à psicanálise, "se não tivesse valor terapêutico, não teria
sido descoberta, como o foi, em relação a pessoas doentes, e não teria
continuado a se desenvolver por mais de trinta anos". Ou, por mais de cem
anos, poderíamos acrescentar.
Referências bibliográficas
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sujeito na clínica psicanalítica Trabalho apresentado na terceira jornada de
pesquisadores em Ciencias Humanas CFCH- UFRJ, Rio de Janeiro.
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clínica psicanalítica Relatório final de pesquisa, IP- UFRJ, Rio de Janeiro.
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____(1895[94]). Obsessões e fobias. E.S.B. vol III.
____(1905[01 ]). Fragmentos da análise de um caso de
histeria. E.S.B. vol VII.
____(1905[04]). Sobre a psicoterapia. E.S.B. vol VII.
____(1912). A dinâmica da transferência. E.S.B. vol XII.
____(1913). Sobre o início do tratamento. E.S.B. vol XII.
____(1933[32]). Novas conferências introdutórias. E.S.B. vol
XXII.
____(1937). Análise terminável e interminável. E.S.B.
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Zahar.
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