O que é psicanálise? Essa é uma pergunta que recebemos
diariamente aqui na Vittude!
Trata-se de uma abordagem que trabalha profundamente o
inconsciente, responsável pelas nossas atitudes que temos “em modo automático”.
Essas podem chegar a desafiar a lógica e o bom senso.
Para exemplificar, pense em todas as vezes que você disse “a
partir de amanhã não vou mais fazer X coisa” e se pegou repetindo o
comportamento sem perceber.
Ou quando falou algo que não queria e emendou um “é
brincadeira” no fim para não parecer rude. O inconsciente é responsável por
isso.
Sigmund Freud (1856-1939) foi fundador dessa abordagem e
talvez o psicanalista mais conhecido, mas há outras escolas de pensamento que
contribuíram para o movimento psicanalítico.
O inconsciente é a chave da psicanálise
Freud descobriu que muitos comportamentos conscientes são
influenciados por forças inconscientes, como memórias, impulsos e desejos
reprimidos.
Estes podem ser desagradáveis ou inaceitáveis socialmente,
pois podem causar sofrimento e brigas.
Por exemplo, quando um indivíduo é vítima de um
comportamento grosseiro no trabalho, ele sente raiva e vontade de retrucar ou
até de agredir o outro fisicamente. Em sua mente, cria cenários fantasiosos nos
quais pode responder com grosseria para compensar as emoções negativas geradas
pelo ocorrido.
Porém, não é possível agir conforme deseja, pois isso
acarretará em diversas consequências negativas que poderão prejudicar a
carreira. Mesmo assim, algum dia, ele poderá transformar a fantasia em
realidade “sem querer”, motivado por desejos inconscientes.
Tudo o que está armazenado em nosso inconsciente afeta as
nossas vidas. O modo como pensamos, agimos e expressamos opiniões é resultado
de uma memória, crença ou desejo que não está na superfície do psiquismo.
Por isso, podemos entrar em conflito conosco ou com pessoas
sem compreender exatamente a razão.
A psicanálise, então, busca as causas da infelicidade das
pessoas nos esconderijos do inconsciente.
As principais escolas da Psicanálise
Freud
Você já deve ter ouvido falar sobre o ego, certo?
Na psicanálise freudiana, o ego é a parte do sistema psíquico
que lida diretamente com a realidade. Embora seja visto como um vilão por aí, o
ego é o mediador entre os impulsos do id e as exigências do superego.
Ele nos ajuda a ter um comportamento realista e aceitável de
acordo com as demandas da sociedade. Basicamente, o ego regula o nosso desejo
de apenas satisfazer as nossas necessidades primitivas e alimentar paixões.
O id armazena os desejos inconscientes, os quais não são
totalmente lógicos e às vezes não seguem as regras estabelecidas pela
sociedade. É o ego que coordena o que o id pode ou não fazer, permitindo ou
inibindo a sua satisfação.
Enfim, o superpego é o aspecto final da personalidade.
Contém nossos valores e ideias bem como as lições aprendidas com os pais e com
a sociedade. É uma espécie de juiz que determina o comportamento de acordo com
esses aspectos morais. Quando muito severo, o superego anula as escolhas do ego
e causa conflito psíquico.
Além da descoberta desses três elementos da personalidade,
Freud desenvolveu técnicas psicanalíticas à medida que tratava seus pacientes.
Uma delas é a associação livre (método em que o terapeuta
fala uma série de palavras e o paciente responde com o que viver à mente para
despertar memórias reprimidas).
Trabalhou também a análise dos sonhos (Freud acreditava que
os sonhos eram a “estrada para o inconsciente”).
O estudo da sexualidade da criança (complexo de Édipo), o
conceito da dualidade no psiquismo (o conflito resulta de forças contrárias), e
o fenômeno das resistências foram algumas das contribuições de Freud para
formar o alicerce da psicanálise.
Lacan
A abordagem lacaniana enfatiza a estrutura linguística. O
indivíduo é formado através da linguagem. O mundo em que vivemos, de acordo com
o psicanalista, é construído de símbolos e de significantes, conceito que
define que um objeto, imagem ou situação pode representar outra coisa.
O indivíduo, portanto, consegue identificar esses símbolos
por conta da linguagem.
Jacques Lacan (1901-1981) também era filósofo, por isso, seu
modo de pensar a psicanálise tende a se apoiar em conceitos mais filosóficos.
A construção do “eu” é formada no interior. O que reside no
íntimo de cada um tem ligação direta com o exterior. Para compreender uma
pessoa como um todo, é necessário pensar em ambos os aspectos, e não apenas
julgá-la sobre uma única ótica. Caso contrário, a análise do outro fica
incompleta.
Neste contexto, Lacan estabelece a relação entre o “eu” e o
outro, sendo a linguagem o instrumento de mediação entre eles.
Winnicott
O foco de Donald Winnicott (1896-1971) é a relação entre a
criança e a mãe. Segundo ele, todos nós nascemos indefesos, porém, com grande
potencial. Para que este possa se desenvolver propriamente, o ambiente precisa
ser acolhedor e garantir a satisfação das necessidades básicas.
O ambiente familiar, econômico e social influenciam
diretamente a formação do indivíduo. Mas a mãe é o fator principal. O seu
relacionamento e interações com o bebê são essenciais para que ele cresça bem.
Assim, nasce o conceito da “mãe suficientemente boa”, referente à figura que
satisfaz todas as necessidades e carências do bebê.
Consequentemente, os transtornos mentais seriam resultado
tanto de um relacionamento defeituoso com a mãe quanto de um ambiente
desfavorável.
A criança não desenvolve apropriadamente o seu lado
emocional, resultando em uma série de complicações na vida adulta. O ambiente
deficiente exerce influência até mesmo em bebês recém-nascidos.
Klein
Melanie Klein (1882-1960) dedicou-se a estudar a mente das
crianças para descobrir seus medos, fantasias e angústias.
Ela desenvolveu a análise do comportamento delas por meio da
brincadeira para ter acesso ao inconsciente da criança já que a associação
livre de Freud dificilmente seria usada com indivíduos de pouca idade.
Diferente de Freud, Klein apontou a agressividade como
elemento primordial no desenvolvimento da criança em vez dos aspectos sexuais.
Este é resultante de um ego primitivo existente desde o nascimento.
Além disso, fundou uma teoria da psicanálise referente às
fantasias do inconsciente. Estas são elaboradas pelas crianças sobre suas mães,
geralmente criando uma imagem mais malvada do que a realidade. As fantasias são
inatas porque representam os instintos mais primitivos da criança.
Para ter acesso a essas fantasias, o psicanalista precisa
inserir o lúdico no tratamento com a criança e estimular brincadeiras para
encorajar determinados comportamentos.
Bion
Wilfred Bion (1897-1979) desenvolveu a Teoria do Pensar. O
ato de pensar surge como uma forma de lidar com a frustração, criando novas
realidades para satisfazer os desejos não satisfeitos.
Quando o ódio oriundo da frustração é grande demais para a
pessoa suportar, este sentimento encontra alívio na descarga imediata por meio
de agitações motoras.
Segundo ele, o pensar depende de dois fatores: os
pensamentos propriamente ditos e a faculdade de pensar. O pensamento vazio
acontece quando uma pré-concepção do indivíduo não é realizada.
Consequentemente, a frustração aparece, sendo esta definida como uma
“ausência”. Logo, a pessoa se abre para um universo simbólico construído ao
longo de sua existência através de pensamentos e interpretações do mundo, de
seus sentimentos e das pessoas.
Neste contexto, o pensamento precede o conhecimento já que o
indivíduo cria o que não existe ou não conhece (pré-concepção).
Bion também desenvolveu a Teoria do Conhecimento a qual
afirma que a formação do conhecimento da criança é proporcional à capacidade do
ego de tolerar a frustração. Desse modo, ela pode criar mecanismos para
evitá-la.
O que é psicanálise contemporânea
Há diversas tendências presentes na psicanálise
contemporânea. Uma delas é a investigação das situações clínicas resultantes
das regressões para as etapas primitivas do desenvolvimento emocional, como a
primeira infância.
A proposta contemporânea é aquela que vai de encontro às
emoções reprimidas para encontrar caminhos para novos encontros e,
eventualmente, libertá-las. A questão do setting analítico, caracterizado pela
relação entre o analisa e o analisado, é muito evidente nesse modo de pensar.
O paciente pode ser ele mesmo no momento da análise, sem
medo de encontrar julgamentos ou pré-conceitos. O analista, então, desempenha a
escuta analítica para deixar o analisado falar à vontade. Neste caso, a
linguagem não-verbal também é considerada para realizar uma avaliação mais
completa.
Outra tendência é a compreensão dos fatores hereditários no
aparecimento dos transtornos mentais. Sabe-se agora que filhos de pais
depressivos ou ansiosos têm maior chance de desenvolvê-los, portanto, há uma
grande influência genética.
Além disso, a análise das funções do ego abriu-se para
outras ciências, como a neurociência, a linguística e a psicofarmacologia. Um
resultado desta expansão é a noção de que o paciente, através da psicanálise,
consegue pensar as suas experiências emocionais e decide se tornar consciente
delas e aceitá-las ou ignorá-las.
O profissional psicanalista
Psicanalista é o profissional que segue a linha teórica da psicanálise no trabalho com seus pacientes. Vale destacar que a psicanálise é uma formação, que não é restrita somente aos profissionais de psicologia.