Se você procura questões sobre psicanálise de Freud, esse
artigo aqui é para você.
Esse compilado de perguntas e respostas é fruto das
discussões feitas na minha formação como psicólogo, onde trabalho temas como o
consciente x inconsciente, atos falhos, chistes, interpretação dos sonhos,
aparelho psíquico com as 3 estruturas ego, ID e superego, e outras teorias
psicanalíticas.
Acredito que muitas delas são comuns e podem orientar quem
busca respostas rápidas para os conceitos abaixo.
As 38 questões sobre psicanálise de Freud
Se você ainda não está familiarizado com os conceitos da
psicanálise, sugiro que leia um artigo completo sobre psicanálise aqui, e
também outro detalhando o Desenvolvimento Psicossexual de Freud.
Também tem uma análise completa do filme Freud Além da Alma
que você pode gostar.
Abaixo eu listo uma série de perguntas e respostas das
questões sobre psicanálise.
1ª tópica: consciente e inconsciente
1. O que é o inconsciente para a psicanálise?
O inconsciente é parte da teoria da primeira tópica de
Freud, justamente com o consciente e o pré-consciente.
Ele é o “lugar” onde armazenamos memórias, pulsões, desejos,
e vontades recalcadas, que influenciam diretamente o sujeito, porém sem que ele
tenha total domínio sobre ele.
2. O que é o determinismo psíquico?
É a premissa fundamental psicanalítica que todo
comportamento humano (pensamentos e sentimentos) é determinado por razões
inconscientes.
A ideia é que nada do que acontece em nossa mente é por
acaso. Cada manifestação do indivíduo tem uma origem no aparelho psíquico.
Como postulou Freud: “não somos senhores da nossa própria
casa”.
2ª tópica: Ego, ID e Superego
3. Quais demandas apareceram para que Freud sentisse a
necessidade de criar a segunda tópica da psicanálise?
Ele sentiu dificuldade de explicar os fenômenos psíquicos
apenas com a primeira tópica, e que precisava aprofundar a teoria.
Dessa forma, ele postulou o ID, Ego e Superego para
complementar sua teoria.
4. Na segunda tópica temos um mecanismo que haja 100%
consciente?
Não. O Id é relacionado com o inconsciente, e o Ego e o
Superego possuem instâncias conscientes, pré-conscientes e inconscientes.
5. Como Freud entende o papel da cultura na formação do
inconsciente?
Isso se dá na formação do Superego, que carrega todas as
normas e ideais culturais para o aparelho psíquico.
Ele possui instâncias conscientes e inconscientes.
6. O que é a formação de compromisso e como ela funciona?
A formação de compromisso é um acordo entre consciente e
inconsciente sobre os desejos reprimidos de forma que eles possam se manifestar
no consciente, porém em uma linguagem figurada como nos sonhos.
A segunda tópica postula que o Ego é quem faz essa mediação.
7. Sobre o princípio “prazer x desprazer” – como o aparelho
psíquico equilibra essa dinâmica entre o consciente e o inconsciente?
O aparelho psíquico, por meio do Ego, faz essa mediação
através da mecânica da formação de compromisso descrita acima.
8. Qual a função do Ego na relação do Id com o Superego?
O ego faz a intermediação entre o Id e o Superego, de modo a
garantir o equilíbrio psíquico. O ego bem estruturado é aquele que consegue
fazer essa intermediação.
9. O ID, Ego e Superego pode ser alterado em caso de lesão
cerebral?
Pode até ser que sim, mas lembrando que essas estruturas são
instâncias psíquicas e não lugares físicos.
A psicanálise não se propõe a ser uma ciência neurológica,
mas uma metapsicologia, como explicado acima.
Interpretação dos sonhos
10. Freud acreditava que os sonhos tem significado. A qual
conclusão ele chegou?
Ele postulou que todo sonho possui conteúdos com os desejos
inconscientes do sujeito “disfarçados” em metáforas e ilustrações.
11. Quais os mecanismos de formação dos sonhos segundo
Freud?
Deslocamento, condensação, simbolismo e dramatização.
12. Para que servem esses mecanismos dos sonhos e como eles
funcionam?
Visam proteger o sonhador, de forma que o consciente não
reconheça o desejo oculto.
Dessa forma, o sujeito pode dormir sem ser invadido pelo
desejo. Quando isso não ocorre, pode surgir o terror noturno, com angústia e
pesadelos.
13. O que é sonho recordado?
É o sonho que passou pelo processo secundário da
fragmentação, que tenta se esconder através de um discurso.
14. Mas por que não lembramos de alguns sonhos?
O esquecimento de um sonho se dá através do processo
secundário do Superego que preserva o “não querer saber do sonho”.
15. O sonho pode ser usado pelo o aparelho psíquico para
“proteger” a pessoa que não está preparada para lidar com um conflito?
Quem melhor sabe se a pessoa está preparada para lidar com o
conflito é o analista.
Para a psicanálise, a grande maioria dos sonhos são uma
manifestação do que está recalcado no inconsciente, mas de forma parcial e
metafórica.
16. Como o aparelho psíquico “permite” que o sujeito durma
sem risco de ser invadido pelos desejos proibidos pelo Superego?
Isso ocorre devido ao processo primário do sonho, no qual o
sujeito não reconhece o desejo proibido, pois esse é vivenciado através de
metáforas.
17. Como o sonho faz o papel da formação de compromisso
entre as pulsões do Id e as defesas do Ego?
A partir do processo primário citado acima.
As pulsões são deformadas (como nos processos de condensação
e deslocamento) para que possam emergir para o consciente de forma onírica.
Dessa forma, a metáfora não é carregada do afeto e pode ser
expressa.
18. Sonhos e pesadelos: como os pesadelos de quem tem
Transtorno do Estresse Pós-Traumático sacia o princípio de desprazer?
Através da compulsão à repetição e da pulsão de morte.
A dificuldade e resistência em lidar com os acontecimentos
de guerra reprimidos, dariam origem ao sintoma.
Atos falhos e chistes
19. Como um ato falho gera prazer para o Inconsciente ao
mesmo tempo que gera desprazer para o Consciente?
O ato falho dá prazer ao inconsciente pois permite o escape
do desejo, mesmo que de forma simbólica.
Essa libido é como uma energia psíquica fluida, que ora é
empurrada para cima, ora para baixo, tentando satisfazer ora o consciente, ora
o inconsciente.
A formação do compromisso ocorre quando há um acordo de
forças que satisfaça ambas as instâncias através do sintoma.
20. O que significa o esquecimento para a psicanálise?
O esquecimento é um lapso de memória ou ato falho, indicando
algum tipo de recalcamento que pode estar representado no item esquecido de uma
forma simbólica.
21. O que pode significar alguém chamar o namorado ou
namorada pelo nome do(a) ex?
Como na questão acima, a troca do nome é um lapso de
linguagem, um ato falho.
Não é possível identificarmos o que está sendo reprimido, a
não ser através de uma análise mais elaborada com a pessoa.
22. O que são chistes?
É como uma proto-piada, com teor engraçado a partir de
conteúdos reprimidos no inconsciente.
23. Qual a diferença de chiste e piada?
Chiste é diferente de piada, pois a última é criada com o
objetivo de provocar o riso de forma objetiva.
Já o chiste é um escape de um desejo oculto que provoca o
riso espontâneo por tocar em desejos ocultos dos que estão ao redor.
24. Como os chistes, mesmo em forma de piada, são
inconscientes?
Um chiste é uma manifestação inconsciente dada através de um
comentário que gera o riso por tangibilizar em questões reprimidas.
Portanto, necessariamente são inconscientes.
25. Se os chistes são praticados e compartilhamos em grupo
como eles são tratados e interpretados na análise individualmente?
De forma natural, ao longo da análise.
Analista e analisando fazem a interpretação.
26. Qual a importância de os chistes serem tratados na
análise ? Quem normalmente aborda esse assunto, o psicanalista ou o paciente?
O chiste pode ser usado para dar outro olhar a possíveis
conteúdos reprimidos.
Isso ocorre naturalmente durante uma conversa, utilizando
associação livre.
27. Por meio dos chistes é possível reconhecer os desejos
reprimidos de uma pessoa?
Sim, porém através de análise e de forma individual.
Sintomas, neuroses e psicoterapia psicanalítica
28. O que é o sintoma para a psicanálise?
Sintoma é uma das formas de expressar algo que foi
reprimido, sempre em forma de linguagem.
Por isso, um sintoma pode vir por sinais subjetivos ou
físicos, mas sempre deve ser interpretado a partir de uma subjetividade.
29. Qual a diferença entre o conceito de sintoma da
psiquiatria e o conceito de sintoma psicanalítico?
A psiquiatria é uma ciência mais prescritiva, portanto ela
vai se atentar aos sintomas sem considerar a subjetividade do paciente.
Na psicanálise, o sintoma pode vir por um viés físico, mas
aqui é sempre levado em consideração a subjetividade do indivíduo.
30. Se para a psicanálise a questão não é acabar com o
sintoma, mas sabemos que este é desagradável para o indivíduo, qual é afinal a
sua intenção?
Não existe estado de não neurose para a psicanálise,
portanto, a ideia de patologia difere da patologia psiquiátrica.
Dessa forma, a tarefa do trabalho analítico é aproximar o
indivíduo do seu desejo, atenuando o sofrimento sim, porém de uma forma
subjetiva.
O analista irá ajudar o indivíduo a fazer a ressignificação
do seu sofrimento, e que ele saiba sofrer, ou seja, que ele sofra “melhor”
conciliando o desejo consigo mesmo, se apropriando do próprio desejo.
31. Qual a diferença entre neurose fóbica e histérica?
A neurose fóbica é um conflito psíquico transposto para um
objeto no ambiente, como a fobia de baratas.
Existem objetos contra-fóbicos, como um amuleto.
A ideia é a mesma, mas funciona “ao contrário”, servindo
como alívio de um conflito psíquico.
A neurose histérica é um conflito psíquico transporto para
dentro, especificamente para o corpo, como uma cegueira parcial, uma paralisia
de um membro, etc.
32. Sobre o ato de escrever, até quando a escrita criativa
pode ser uma forma de aliviar o sintoma?
Aliviar o sintoma significa que algo que está recalcado está
aparecendo de alguma forma.
Sim, pode ser uma forma de aliviar o sintoma.
Na escrita poética, por exemplo, o ato de escrever está
relacionado com a sublimação, um mecanismo de defesa no qual um desejo
inaceitável socialmente é transformado em algo aceitável pela sublimação.
33. A verbalização do sentimento causador do sintoma, mesmo
quando não expressado para um psicanalista, pode aliviar o sintoma?
Sim, a verbalização pode aliviar o sintoma, mesmo na
ausência do psicanalista.
Ao verbalizar o sentimento, o paciente traria à tona o que
está dentro do inconsciente de alguma forma.
Sobre a própria psicanálise
34. O que é metapsicologia?
“Meta” significa “além de”.
Dessa forma, a psicanálise vai além da psicologia, ou seja,
além do que é material.
Ela, portanto, se trata do imaterial, do subjetivo, das
estruturas do aparelho psíquico, considerando os aspectos tópico, dinâmico e
econômico do psiquismo que se mostram nessas relações.
Outras teorias psicanalíticas
35. Quais as diferenças entre a análise dos sonhos de Freud
e Lacan?
Freud trabalha com os processos primário e secundário da
elaboração dos sonhos.
Lacan dá ênfase à linguagem, o processo secundário.
36. O que significa “os sintomas são estruturados em forma
de linguagem, de forma metafórica” citado por Christian Dunker?
Significa que um sintoma é uma tradução em forma de metáfora
ou metonímia de um conflito interno.
A barata, exemplificada por Christian Dunker, é um
significante (palavra) atrelada a um significado.
Não se tem medo da barata em si (significante), mas do
significado que ela tem.
Dessa forma, os sintomas são estruturados em forma de
linguagem (metáfora) para representar porque não temos condições de lidar com
os conteúdos.
37. O que Christian Dunker quis dizer ao afirmar que o
sintoma se manifesta na relação com o outro?
O Outro é o intermediário entre eu e o outro.
Dunker quis elucidar que sem o Outro não existe linguagem, e
sem a linguagem não existe sintoma.
38. Na teoria de Winnicott um “objeto transicional” poderia
ter seu papel realizado por um ser humano?
Não. Um ser humano faria parte do “fenômeno transicional”,
porém não como o “objeto transicional”.
Conclusão
Espero que essas questões tenham ajudado você que está
estudando psicanálise a entender melhor os conceitos.
Todos os conceitos apresentados foram retirados dos livros
teóricos, porém alguns conceitos podem ter sido atualizados tanto pelo próprio
Freud como pelos seus seguidores.
Caso você encontre alguma inconsistência ou discorde de
alguma resposta, faça seu comentário abaixo! Terei prazer em ouvir seu ponto e
fazer possíveis correções se necessário.
Continue ampliando e se aprofundando nos conceitos de modo a
se preparar para a psicanálise clínica.